REVISTA CH 257 :: MARÇO DE 2009 :: EM DIA
Exploração sustentável
Metodologia permite identificar espécies de tubarões pescadas no litoral brasileiro
Os tubarões, animais entre os de maior perigo de extinção do planeta, são livremente capturados em quase toda a costa brasileira – exceto no Rio Grande do Sul, onde há uma lei que proíbe a pesca de cinco espécies. Devido a essa falta de regulamentação e à demanda crescente por carne e nadadeiras de tubarões, pesquisadores afirmam que em 10 anos, se nada for feito para controlar a pesca industrial e artesanal, aproximadamente 90% das espécies desse peixe terão desaparecido no litoral do país. Frente à escassez de dados relativos às espécies mais capturadas, o biólogo Fernando Mendonça, do Laboratório de Biologia e Genética de Peixes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), criou uma metodologia para identificação dos tubarões pescados na costa brasileira. Segundo Mendonça, a metodologia já possibilitou a identificação de 12 das 25 espécies existentes no litoral brasileiro e, em breve, poderá abarcar todas. A técnica usada por ele, chamada PCR-multiplex (reação em cadeia da polimerase, na sigla em inglês), envolve a identificação das espécies por meio de um exame de DNA. “Cada espécie tem características genéticas exclusivas e são essas diferenças que possibilitam a identificação”, explica o biólogo. Pequenos fragmentos de tubarões pescados (músculo, cartilagem, pele, sangue etc.) são recolhidos em mercados e em desembarques de peixes, e, com a autorização dos pescadores e comerciantes, levados para laboratório para a realização do exame de DNA. Como a pesca de tubarão é realizada em todo o litoral brasileiro, a coleta de amostras foi feita em diversas regiões onde o desembarque é mais frequente. Salvador (BA), Macaé (RJ), Ubatuba e Santos (SP), Itajaí (SC) e Torres (RS) são algumas das cidades. A metodologia dispensa a análise morfológica das espécies e seu processo laboratorial é simples e de baixo custo. Um segundo passo do processo consiste na avaliação da proporção de espécies mais capturadas em relação aos seus estoques originais, o que possibilita a fiscalização daquelas em maior declínio populacional e que precisam de maior proteção. Preservação e comércio
Além de criar bases para o desenvolvimento de planos de conservação das espécies ameaçadas, Mendonça aponta outros aspectos beneficiados pela metodologia: “Os dados gerados também podem ser aplicados comercialmente como método de certificação da carne e, principalmente, das nadadeiras. O comércio das nadadeiras de tubarão é legalizado, extremamente lucrativo e tem seu preço determinado também pela espécie à qual elas pertencem.” Grande parte da pesca de tubarões no litoral brasileiro se deve à chamada ‘captura acidental’, na qual os animais ficam presos na rede de pesca sem serem o alvo de captura. Como as nadadeiras de tubarão são muito valorizadas no mundo todo (na Coréia, seu valor pode chegar a US$ 400 o quilo), os animais não são devolvidos ao mar. Em especial na pesca industrial, eles já chegam ao porto cortados e abertos, prejudicando assim o reconhecimento das características morfológicas das diferentes espécies. Por isso, apenas 22% dos tubarões capturados no Brasil recebem algum tipo de identificação. Os demais são conhecidos apenas por seus nomes populares – tubarão ou cação – que, em geral, abarcam mais de uma espécie.
Isabela Fraga Ciência Hoje/RJ
http://cienciahoje.uol.com.br/139953
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