Viver numa sociedade machista resulta, entre tantas outras lamentáveis consequências, na estatística de que uma entre cada quatro mulheres no Brasil é vítima de violência sexual. E na maioria dos casos o agressor é alguém próximo, como o pai, o padrasto ou até o próprio marido. Esta violência que durante muito tempo ficou escondida atrás de ditos como "em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher", acontece em todas as classes sociais e em todas as idades. Até mesmo contra bebês e mulheres idosas.
Com tanta omissão, o silêncio sobre o assunto resultou invariavelmente em impunidade e, quando as mulheres conseguiam romper as barreiras e denunciar, acabavam sendo tratadas como culpadas por "seduzir" os estupradores. Muitas vezes, sofriam outra forma de violência em delegacias onde eram constrangidas e tratadas como vagabundas.
Felizmente as coisas começam a mudar. Programas pioneiros já demonstram como é possível construir uma rede de atendimento que inicia com o acolhimento e se estende à assistência, podendo chegar ao cuidado integral quando, por exemplo, a mulher acaba perdendo a subsistência com o afastamento do marido agressor.
Um passo importante para mudar a situação é entender a rede de saúde como primeiro local de acolhimento. Inclusive porque, em casos de possibilidade de doenças sexualmente transmissíveis, existem medicamentos que previnem hepatite B e infecção pelo HIV. E, em casos de possível gravidez, a rede pública dispõe da pílula do dia seguinte. Para estes casos, a urgência no atendimento é essencial. E, quando a gravidez se instala, ainda é possível lançar mão do aborto legal.
Claro que devido às diferenças regionais há muitos locais onde faltam profissionais capacitados e serviços bem equipados. Nestes casos ou em qualquer situação onde se perceba algum tipo de violência contra a mulher, há um número de telefone que deve ser acionado. Através do número 180, da Central de Atendimento à Mulher, é possível saber para onde a vítima deve ser encaminhada, que serviços pode acessar e quais providências tomar para que novas violências sejam prevenidas. O atendimento funciona 24 horas, todos os dias. da semana, inclusive feriados.
Cabe a cada um de nós mudar a cultura machista e violenta sob a qual vivemos. E implantar uma sociedade de paz que lida maduramente com seus conflitos. Um bom começo para isso é o acesso à informação. A violência sexual foi o tema debatido no programa. Sala de Convidados do mês passado. É possível ter acesso pelo site www.canalsaude.fiocruz.br ou solicitar uma cópia pelo telefone 08007018122.
*Apresentador dos programas Universidade, Sala de Convidados e Ciência & Letras.
Publicado no Canal Saúde - Março de 2009 - Ano 10 - Número 40 - O Canal Saúde é um Projeto prioritário das Presidência das Fundação Oswaldo Cruz - Ministério da Saúde.
0 comentários:
Postar um comentário
Seu comentário é importante!