HOMOFOBIA
No site do jornal A Tarde Em 2008, 190 homossexuais assassinados
Biaggio Talento *
O número de assassinatos de homossexuais aumentou 55% em 2008 em relação ao ano anterior, revela a pesquisa anual sobre crimes com motivação homofóbica divulgada na terça-feira, 14, na capital baiana pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga entidade do gênero, considerada de utilidade pública.
Foram 190 homossexuais mortos no ano passado, média de um assassinato a cada dois dias. Desse total, o GGB identificou entre as vítimas 64% gays, 32% travestis e 4% lésbicas. O estado que lidera a estatística é Pernambuco com 27 assassinatos em 2008, seguido da Bahia, com 25, São Paulo, com 18, e Rio de Janeiro com 12. Os números continuam crescendo: em 2009, já foram documentados 48 homossexuais assassinados.
Sergipe é considerado o estado que ofereceu “maior risco a travestis e gays em termos relativos, pois, contando com aproximadamente 2 milhões de habitantes, registrou 11 homicídios, enquanto Minas Gerais, 10 vezes mais populoso (20 milhões), teve 8 gays assassinados”, assinala o relatório.
O Nordeste continua sendo a região mais homofóbica. Conforme a pesquisa, abriga 30% da população brasileira e registrou 48% dos assassinatos. No Sudeste/Sul ocorreram 28% dos casos, seguido do Centro-Oeste, com 14%, e Norte, com 10% dos homicídios. De acordo com o GGB, o risco de um homossexual nordestino ser a próxima vítima é 84% mais elevado do que no Sul/Sudeste.
O levantamento revelou ainda que 13% das vítimas tinham menos de 21 anos de idade e entre os mortos estão “travestis profissionais do sexo, cabeleireiros, professores e ambulantes”. Os gays são mais frequentemente assassinados dentro da própria casa, geralmente a facadas ou estrangulados. Já os travestis são executadas na rua, a tiros. O perfil dos criminosos é descrito da seguinte forma pelo relatório: “80% são desconhecidos, predominando garotos de programa, vigilantes noturnos, 65% menores de 21 anos”.
Conforme o GGB, o Brasil foi o campeão mundial de crimes homofóbicos no ano passado com os 190 homicídios, seguido de México, com 35, e Estados Unidos, com 25. Para tentar diminuir os casos no país, o GGB realiza campanhas de esclarecimento entre homossexuais, distribuindo o manual "Gay vivo não dorme com o inimigo". No entanto, somente a cartilha se mostrou insuficiente.
Os ativistas cobram da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República a implementação imediata das deliberações do Programa Brasil Sem Homofobia e da 1ª Conferencia Nacional Gays Lésbicas Bissexuais e Transexuais. Do contrário, ameaçam enviar denúncia contra o governo brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) e à Organização das Nações Unidas (ONU), “pelo crime de prevaricação e lesa humanidade contra os homossexuais”, diz nota distribuída pela entidade nesta terça.
Entre as reivindicações do GGB está a divulgação de outdoors em todos os estados com mensagem contra o assassinato de homossexuais.
O antropólogo Luiz Mott, fundador do GGB, explicou que a contagem dos assassinatos é feita pelas notícias sobre os crimes publicadas em jornais e sites brasileiros. Por essa razão, ele acredita que “o número verdadeiro das mortes deve ser muito maior”. Ele lamenta que não existam estatísticas governamentais sobre crimes de ódio no Brasil. “Este Relatório de Assassinatos de Homossexuais no Brasil – 2008, embora certamente incompleto e lacunoso, é o principal documento mundial sobre crimes homofóbicos, seus dados são creditados e citados pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos e pelo Departamento de Estado dos EUA”, diz.
O levantamento anual começou a ser realizado a partir de 1980. De lá até o ano passado foram documentados 2.998 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, concentrando-se 18% na década de 80, 45% nos anos 90 e 35% (1.168 casos) a partir de 2000. "Este ano a violência homofóbica está ainda mais preocupante”, disse Mott, apontando que no México são assassinados em média 35 homossexuais por ano, 25 nos Estados Unidos (com 100 milhões de habitantes a mais), 15 no Peru, 4 na Argentina, nenhum homicídio homofóbico no Chile. Ele classificou o conjunto de crimes como um verdadeiro “homocausto".
Essa curva continua ascendente no Brasil, pondera Mott, “apesar do aumento das paradas gays, da eleição de cinco vereadores assumidamente homossexuais ou transexuais e do governo Lula ter instituído o Programa Brasil Sem Homofobia”. O que chama atenção nos casos é que 80% dos crimes têm "autor desconhecido", por serem praticados nas altas horas da noite em locais ermos “ou pela omissão das testemunhas, que devido ao preconceito anti-homossexual não querem se envolver com vítimas tão desprezíveis”.
A metade dos criminosos praticou latrocínio, roubando eletrodomésticos e o carro da vítima. “Também chocante é a predominância de assassinos jovens: 65% dos homicidas de gays e travestis tinham menos de 21 anos, o mais jovem apenas com 13 anos, geralmente agindo em grupo”, assinala Mott. “É uma falha principalmente da escola: essa juventude se torna agressiva pela falta de uma educação sem homofobia, que incorpore o respeito aos direitos dos homossexuais em sua metodologia de ensino", diz outro ativista, Deco Ribeiro, do Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados.
Conforme o GGB, “dos 20% de criminosos identificados, menos de 10% chegam a ser detidos e julgados e mesmo estes, alegando legítima defesa da honra, são beneficiados com penas leves ou injustamente absolvidos. Entre os assassinos de GLTB em 2008 predominaram os garotos de programa, vigilantes, pedreiros”. A impunidade seria uma das causas do aumento dos crimes homofobicos.
Luiz Mott cobrou soluções imediatas dos crimes contra homossexuais. Denunciou também a execução de 13 gays em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, nos últimos 14 meses. Segundo ele, “crimes hediondos que foram escondidos pela Secretaria de Segurança Pública e a Polícia Civil de São Paulo, até hoje sem prisão dos homicidas”.
* Repórter da Agência A Tarde; texto publicado em 15/4/2009
extraído do site http://www4.ensp.fiocruz.br/radis/rede/167.html
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