Entre 12 e 17 anos, 54% dos adolescentes já experimentaram álcool e 7% apresentam um padrão de uso abusivo (20 ou mais vezes no mês), de acordo com o Cebrid. Preocupante: quanto mais precoce o consumo, maior o risco de dependência. Estudo da psiquiatra Susan Tapert, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, aponta que 47% dos adultos que começaram a beber antes dos 14 anos se tornaram dependentes, contra 9% dos que tiveram contato com álcool depois dos 21 anos. Mais: jovens com histórico de bebedeiras apresentam dano irreversível no hipocampo, região do cérebro responsável pela memória e ainda em desenvolvimento na adolescência. O abuso aumenta também a propensão a comportamentos de risco, como brigas e sexo sem proteção. E há relação direta com o uso de drogas mais pesadas. “Adolescentes que quase não bebem raramente se envolvem com drogas ilegais; dos que bebem em excesso, 16% começam a utilizar droga ilícita após dois ou três anos”, afirma Raul Martins.
O QUE VOCÊ PODE FAZER
A regra é simples: menor não toma bebida alcoólica; se beber, é só em ocasião especial e quantidade mínima. Se seu filho ultrapassou esse limite, a primeira providência é analisar o consumo de álcool da família. Quando a bebida é usada apenas em reuniões familiares e bebedeiras não são aceitas, o adolescente tende a adotar esse padrão. Já pais estressados, que só relaxam e se tornam receptivos depois de algumas doses, passam aos filhos a imagem distorcida de que o álcool soluciona problemas. Importante: nunca discuta enquanto o adolescente estiver embriagado. Espere que ele recobre a consciência e aí tenha uma conversa séria. Dependendo do caso, busque ajuda. O tratamento é multidisciplinar, envolvendo clínico-geral ou psiquiatra, para desintoxicação e eventual uso de medicamentos, e psicólogo, para acompanhamento emocional.
Cigarro
Até os 13 anos e meio, 24,9% dos estudantes já fumaram. Mas o tabagismo vem caindo no Brasil. “Isso porque o país investiu em educação e informação. Também teve impacto a proibição da venda a menores e a restrição da propaganda e do patrocínio a eventos culturais e esportivos”, diz o pneumologista Sérgio Ricardo, da Unifesp.
O QUE VOCÊ PODE FAZER
A prevenção começa na infância, com noções de respeito ao corpo. Mas, quando o cigarro já entrou em cena, não adianta proibir nem falar de efeitos distantes, como o risco de câncer de pulmão. “Fale dos problemas imediatos, como dentes amarelados, hálito ruim e mau cheiro, que diminuem o universo de ‘namoráveis’. Meninas se assustam com prejuízos à pele e envelhecimento precoce; garotos, com diminuição da capacidade física e risco de impotência”, ensina Sérgio. Ao menor sinal de que seu filho quer parar, busque ajuda.
Remédios
As anfetaminas e os ansiolíticos são as drogas preferidas pelas meninas; garotos usam mais anticolinérgicos, com incidência, respectivamente, de 3,7, 4,1 e 1,2%. Os anticolinérgicos, indicados no tratamento do mal de Parkinson, são comprados por causar alucinações. Anfetaminas (estimulantes) e ansiolíticos (de ação relaxante) são encontrados em muitas casas, em fórmulas para emagrecer e tranqüilizantes. O corpo se acostuma às drogas; sem elas, reage com náuseas, vômitos, cólicas, diarréia e cãibras. O uso pode provocar depressão, ansiedade, psicose tóxica e até a morte.
O QUE VOCÊ PODE FAZER
Em casa, mantenha essas substâncias sempre sob controle e, se notar desfalques, aborde claramente o adolescente. Os sinais do uso de remédios para dar barato se assemelham aos da embriaguez. Se confirmar a suspeita, busque ajuda especializada, pois esse é um ciclo difícil de ser rompido.
Tratamento de choque
Foi nos aniversários e baladas que comecei a beber. Eram coquetéis malucos de vodca, uísque ou o que estivesse à mão mais pó para fazer refresco, suco, leite condensado... Todo fim de semana, eu bebia muito, mas, como meus pais estavam dormindo quando eu chegava em casa, eles não percebiam. Até que um amigo bateu o carro e eu estava de carona. Meus pais ficaram chocados quando, no hospital, o médico fez sermão sobre quanto tínhamos bebido e o perigo de dependência. Levei um susto e resolvi parar. Há um ano continuo firme na minha decisão. Carlos*, 18 anos *
Sensação de voar
Eu adorava o cheiro do uísque que meu pai bebia ao chegar do trabalho. Com 9 anos, eu e minha irmã experimentamos. Ela vomitou e não bebeu mais. Eu achei ruim, mas depois curti a tontura. Queria ser astronauta e, quando bebia, me imaginava flutuando. Passei a beber toda tarde, chegando da escola, e aí dormia. Minha mãe achava que era porque eu levantava cedo. Aos 12, repeti de ano e minha irmã contou que eu não estudava porque dormia a tarde toda depois de beber. Minha mãe jogou as bebidas fora. Besteira. Fiz amizade com um pessoal mais velho e bebo com eles. Não sou dependente. Larissa*, 14 anos
* Nomes trocados para preservar a identidade dos entrevistados
Foto Fabio Heizenreder
Realização Noris Martinelli/Produção Sylvia Radovan/Cabelo e maquiagem Fabio Nogueira, Angel
http://claudia.abril.uol.com.br/materias/2759/?pagina6&sh=&cnl=&sc=
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