É lendo a Revista Ciências Hoje que tomamos conhecimento de tantas coisas maravilhosas que existem em nosso país. Também é muito importante multiplicarmos as informações obtidas, após uma leitura que nos revela assuntos que nunca imaginávamos, a exemplo da fruta bacuri.
Bacuri universal Sistema de manejo do fruto no Maranhão reduz desmatamento e preserva a bacia amazônica
Depois do guaraná, do cacau, do açaí e do cupuaçu, hoje consumidos em todo o país, uma nova fruta pode seguir o mesmo caminho: o bacuri. Encontrado sobretudo na bacia amazônica (Pará, Maranhão, Mato Grosso e Piauí), o bacurizeiro é uma espécie arbórea da família Clusiaceae, com potenciais ainda pouco explorados. Além de saboroso, o fruto, de casca amarela, é tão rico em potássio quanto a banana, contendo ainda muitos outros sais minerais e vitaminas, principalmente do complexo B. O caule também pode ser utilizado na construção de caibros, canoas, cercas etc.
Para que o bacuri se torne uma fruta universal, no entanto, segundo a agrônoma Maria da Cruz Moura, da Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural do Maranhão (Agerp/Seagro/Fapema), é preciso ampliar sua capacidade de oferta, totalmente dependente do extrativismo. Ela acredita no potencial da fruta por causa da boa aceitação comercial, apesar do preço elevado da polpa (R$ 26 o quilo). “O bacuri conquista os nossos sentidos com seu aroma agradável, cor atraente, acidez moderada e alto teor nutritivo. Ainda são necessárias muitas pesquisas para conhecer melhor suas propriedades, mas é, sem dúvida, um mercado em ascensão.” O bacurizeiro é uma das poucas espécies que têm polinização ornitófila (realizada por aves) e, no cerrado maranhense, os principais polinizadores são as pipiras e os periquitos. Para aumentar a densidade de bacurizeiros nativos, que varia de 0,5 a 1,5 por hectare, para 100 plantas por hectare, vem sendo empregado um sistema de manejo das rebrotas (filhotes) dos bacurizais nativos (SMRBN), criado pelos produtores do Pará e aperfeiçoado pela Embrapa Amazônia Oriental. “O bacuri tem uma característica ímpar, o rebrotamento é feito por suas raízes”, explica a pesquisadora. O sistema de manejo consiste basicamente em aumentar a densidade da espécie, intercalando, enquanto não frutifica, com outras culturas alimentares, como feijão, mandioca, melancia etc. “Assim, não é preciso queimar novas roças para plantio e evita-se a agricultura itinerante. O sistema promove assim geração de renda e emprego”, observa a agrônoma. O SMRBN está sendo testado na Chapada Limpa, no Maranhão.
Risco de extinção
Se medidas preservativas não forem tomadas rapidamente, no entanto, o bacuri poderá ser extinto. A paisagem de bacurizais, como conta Moura, vem sendo substituída de maneira acelerada por áreas de eucalipto, monocultura da cana-de-açúcar e soja. A agrônoma enumera diversas ações para a preservação dos bacurizais, como a criação de leis de incentivo de uso, manejo e conservação. “Deve ser criada uma multa para quem cortar árvores com mais de 100 anos”, defende a pesquisadora, acrescentando que seria importante, ainda, a proposição de editais de financiamento para pesquisa da espécie e confecção de mudas. Outra sugestão é a arborização de áreas urbanas com bacurizais. “As flores são lindas e, enxertadas, elas lembram uma árvore de Natal”, diz. A divulgação da importância socioambiental e nutricional da espécie é também uma medida importante para a sua preservação, fazendo com que a planta “deixe de ser invisível para tornar-se universal”.
Fred Furtado e Isabela Fraga Ciência Hoje/RJ
Com sabor e aroma agradáveis, além de muito nutritivo, o bacuri pode se tornar uma fruta de consumo generalizado no país, a exemplo do guaraná e do açaí .
Uma espécie em risco: a paisagem de bacurizais vem sendo substituída de maneira acelerada por áreas de eucalipto, monocultura da cana-de-açúcar e soja.
REVISTA CH 256 :: JANEIRO/FEVEREIRO DE 2009 :: vol. 43 pág. 62.
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