O colo do útero é o segundo local mais comum de instalação do câncer entre as mulheres a nível mundial. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), ocorrem aproximadamente 510 mil novos casos anualmente da doença com 288 mil óbitos por ano. Devido ao aumento no número de jovens infectadas pelo HPV, vírus que causa as lesões precursoras do câncer no colo do útero, a ginecologista Denise Monteiro, doutora em Saúde da Criança e da Mulher pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF), unidade da Fiocruz, sugere, após a conclusão de sua pesquisa, a inclusão das adolescentes sexualmente ativas no Programa de Controle do Câncer de Colo Uterino, visando a detecção precoce das lesões. Em seu estudo, realizado sob a orientação do Programa de Pós-graduação do IFF, a médica mostra que um ano após o início da vida sexual, quase uma em cada quatro delas já apresenta lesões causadas por HPV, alcançando 40% em cinco anos de vida sexual.
A pesquisa ocorreu entre 1993 e 2006 no Hospital de Jacarepaguá, instituição pública na cidade do Rio de Janeiro, pertencente ao Ministério da Saúde, onde a autora coordena o Setor de Ginecologia para Adolescentes desde a sua criação, em 1993. Para estudar a incidência, o prognóstico e o tipo de lesões, a pesquisadora acompanhou 403 adolescentes durante cinco anos após o início da atividade sexual, das quais 147 apresentaram alterações citológicas. Neste período, a médica pode observar ainda a incidência de 24,1% de lesões cervicais no primeiro ano de atividade sexual e a redução nos quatro anos subseqüentes, com variação entre 3 e 8%, mostrando que a maioria das lesões, assim como em outras faixas de idade, regride com o tempo.
A pesquisadora explica que grande parte dos casos de infecção por HPV não causa sintomas. Entretanto, nos casos persistentes, pode levar ao desenvolvimento de lesões que antecedem o câncer do colo do útero. “Felizmente, confirmamos grande taxa de regressão dessas lesões, mesmo nos casos de lesões de alto grau, que alcançou 50%. No Brasil, estima-se que 3% das mulheres infectadas por um tipo viral oncogênico poderá desenvolver câncer de colo uterino quando não são adotadas medidas preventivas”, destaca Denise.
A estimativa do Inca é que se possa reduzir 80% da mortalidade por câncer cervical pelo rastreamento adequado da doença com o teste de Papanicolaou e tratamento das lesões com alto potencial de evoluírem para malignidade. “Como o primeiro contágio com o HPV ocorre mais freqüentemente no início da vida sexual, do mesmo modo que a maioria das doenças sexualmente transmissíveis, a prevalência do vírus entre os jovens é maior”, explica a médica.
Para Denise, a saúde dos adolescentes constitui grande desafio para a saúde pública, uma vez que ainda há dificuldade em relação ao acesso a informações e serviços adequados para o atendimento de suas necessidades em saúde sexual e reprodutiva. “Nosso trabalho reforça a importância da detecção precoce das lesões, o que seria viabilizado pela inclusão das adolescentes sexualmente ativas nos programas de rastreamento, minimizando o impacto sobre sua saúde sexual e reprodutiva”, destaca a pesquisadora.
Janeiro 2009
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