O corpo é uma das mais importantes ferramentas de trabalho. Se ele está dolorido, tenso ou foi forçado a permanecer em uma posição desconfortável, a probabilidade de o desempenho profissional sofrer danos é grande. Afinal, quem é que consegue sentir ânimo e bom humor se a coluna lateja, os olhos ardem e os dedos repuxam após horas a fio movendo o mouse? Para poupar seus funcionários de incômodos que prejudicam suas atividades e sua saúde, cada vez mais empresas têm adotado a prática de ginástica laboral. Trata-se de uma série de exercícios físicos leves e de curta duração, feitos no próprio ambiente de trabalho, que não sobrecarregam nem cansam os funcionários. Ao contrário: reduzem e previnem problemas ocupacionais - principalmente lesões por esforços repetitivos (LER) e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalhor (Dort) -, além de permitir que todos executem suas atividades com disposição. A longo prazo, ainda melhoram à qualidade de vida.
Como é uma atividade preventiva, a ginástica laboral deve ser realizada exclusivamente por professionais de Educação Física. Na AMIL, a consultora para projetos de ginástica laboral em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília, é Patrícia Lacombe, presidente da Associação Brasileira de Ginástica Holística (ABGH). Patrícia segue os conceitos do método Ehrenfried, criado pela médica alemã Lily Ehrenfried (1896-1994). A técnica tem três objetivos fundamentais - educativo, preventivo e terapêutico - e conta com mais de 800 movimentos diferentes, que provocam modificações em toda a estrutura do organismo. "A pessoa ganha mais consciência corporal e sente vontade de mudar suas atitudes diárias", conta Patricia.
O projeto em parceria com a Amil não inclui somente a prática. A cada aula, são distribuídos folhetos explicativos aos funcionários para detalhar os benefícios do trabalho e mostrar como executar corretamente certos movimentos.
POSTURAS VICIOSAS
Segundo a consultora da Amil, as atribuições que exigem força não são as mais afetadas pelos problemas que podem ser corrigidos com a ginástica laboral. De acordo com estudos recentes, as funções administrativas exigem atenção extra, pelo uso constante dos membros superiores (mãos, antebraços, braços e pescoço). É o caso de digitadores, programadores e secretárias, que passam muito tempo diante do computador ou ao telefone, o que sobrecarrega diversos músculos e articulações.
Seja qual for a função, o cargo ou a jornada diária do trabalhador, o fato é que as doenças ocupacionais prejudicam principalmente quem apresenta posturas viciosas. A especialista Patricia Lacombe compara o corpo humano com um grande edifício. "Um prédio bem construído precisa ter todos os andares alinhados, caso contráriopode ruir. O corpo também requer esse ajuste nos seus principais pontos de sustentação, ou seja, pes, quadril e cabeça. Podemos traçar outra analogia com um carro. Se ele estiver desalinhado, o volante vai pender para um lado, o pneu sofrerá maior desgaste, haverá gasto extra de combustivel. Da mesma maneira, um incômodo nos ombros não tratado, por exemplo, corre o risco de se tornar crônico e até mesmo afetar outras regiões", afirma.
Entre os problemas mais frequentes provocados pelas posturas e atitudes inadequadas no trabalho, podemos citar a dor na região lombar, o desconforto na nuca, na coluna cervical e no pescoço, encurtamento musculuares, incômodos nos olhos e lesões nos cotovelos, nos punhos, nas mãos e nos ombros. Alguns tipos de dor ainda elevam o nível de estresse e podem provocar mau humor e, a longo prazo, depressão.
Na prática, os exercicios programados devem buscar a contração muscular contrária áquela exigida durante o trabalho. Isso promove o alongamento e o relaxamentoda musculatura em questão. Quando as atividades de trabalho foram unilaterais, com o uso, por exemplo, de um braço deve-se praticar também exercícios de compensação para o lado menos solicitado.
A PRÁTICA PREVINE PROBLEMAS COMO TENDINITE E DORES NA COLUNA. TAMBÉM MELHORA A AUTO-ESTIMA E A AUTO-IMAGEM DOS FUNCIONÁRIOS
Os benefícios da ginástica laboral são vários. Para começar a técnica estimula a respiração, a ansiedade diminui. Há também um aumento de flexibilidade, da disposição, da capacidade de concentração e da consciência corporal. A prática constante funciona como uma espécie de prevenção a determinadas intervenções cirúrgicas - caso da hérnia de disco e da tendinite. Como na maior parte das empresas a atividade é feita em grupo, as relações interpessoais e o espírito de equipe também são fortalecidos. No método indicado por Patrícia Lacombe ás empresas atendidas pela Amil, cada pessoa do grupo age como um "anjo do trabalho" para a outra, ajudando-a a corrigir postura. E, por último, a prática melhora a auto-estima e a auto-imagem.
A técnica Ehrenfiried conta com uma aula de no máximo uma hora, uma vez por semana, que pode ser realizada a qualquer momento do expediente. Após um aquecimento começam os exercícios de tonificação e, ao fim da sessão, há o relaxamento. Os grupos contam com 12 pessoas, no máximo, e o desenvolvimento das atividades é discutido com o departamento de recursos humanos para avaliar as necessidades daquele universo. Esse método, em geral, exige o uso de uma sala ampla, já que alguns movimentos devem ser feitos com os funcionários deitados. No entanto, é possível adaptá-los para qualquer ambiente, já que existem várias séries em outras posições.
(matéria publicada na revista veja de dezembro de 2007)
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