Vírus e bactérias podem circular com os turistas, o que exige prevenção por meio de vacinas, preservativos e cuidados com a alimentação
Postado por Cármen Guaresemin em 10/06/2014
O Brasil já recebe milhares de turistas de todos os continentes. Muitos chegam para assistir a Copa do Mundo e aproveitar a viagem para conhecer o país. Inevitavelmente, alguns trarão companheiros indesejáveis: vírus e bactérias típicos das regiões onde vivem.
O mesmo vale para os brasileiros, que viajarão de um Estado para outro. Para piorar o quadro, será época de baixas temperaturas, quando os ambientes tendem a ser menos ventilados e propícios à propagação de micro-organismos.
Infelizmente, não há como evitar o trânsito de doenças em um evento de massas, como a Copa do Mundo, mas dá para se prevenir. Na maioria das vezes, os estrangeiros, alertados, já chegam vacinados para algumas delas. Mas os próprios brasileiros se esquecem que há regiões no país em que há riscos de contrair malária e febre amarela, por exemplo.
É também pouco conhecida a Medicina do Viajante. “Nessa especialidade é praxe recomendar medidas para quem vai viajar, pois cada local tem suas particularidades e o turista precisa ser alertado sobre elas”, explica o infectologista Esper Kallás, professor de Imunologia Clínica e Alergia da Faculdade de Medicina da USP e médico do núcleo de infectologia do Sírio-Libanês.
No Brasil, o turista estaria mais exposto a doenças como dengue, gripe e hepatite A e, em algumas regiões, malária e febre amarela. A dengue seria o maior problema, especialmente nas cidades de São Paulo e Campinas, que enfrentam uma epidemia da doença, mas não tão grave. Segundo estudo recente realizado por especialistas brasileiros, no pior dos casos, apenas 100 dos 600 mil turistas estrangeiros previstos durante o Mundial, menos de 0,02% do total, poderão contrair dengue durante sua estadia aqui.
De acordo com especialistas, o pico de casos de dengue no Brasil ocorre entre a 15ª e a 20ª semana do ano, e o Mundial só começará na 24ª. A dengue, em geral, é endêmica no Brasil durante o verão, quando o calor e as chuvas facilitam a propagação do mosquito Aedes Aegypti, o transmissor da doença.
O risco de contrair dengue será estatisticamente maior, embora ainda mínimo, em cidades do Norte e Nordeste do Brasil que serão sedes do Mundial, como Salvador, Fortaleza, Natal, Manaus e Recife, de acordo com o estudo.
Já os estrangeiros podem trazer doenças como o sarampo. Dos 32 países que participarão do campeonato de futebol, 19 apresentaram incidência de sarampo nos últimos anos. No Brasil, foram divulgados casos da doença em Fortaleza há poucos meses, todos relacionados a pessoas que viajaram para outros países.
De acordo com Esper Kallás, a população brasileira está numa situação privilegiada em relação ao sarampo: “Temos uma ótima cobertura, mas não podemos baixar a guarda. Nada impede que uma pessoa traga o vírus, por isso é importante ter tomado a tríplice-viral, que engloba o sarampo, a caxumba e a rubéola”.
Também pode vir na bagagem uma novidade, a Chikungunya, semelhante à dengue. O nome significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia, região em que surgiram os primeiros casos dessa doença ainda desconhecida no Brasil. Um arbovírus do gênero Alphavirus (Togaviridae) é transmitido aos seres humanos pelos mosquitos do gênero Aedes, os mesmos da dengue.
“Esse vírus está bastante presente na Ásia e apareceu com força no Caribe. Já tivemos casos no Brasil de pessoas que viajaram e voltaram com a doença. Ela lembra a dengue, mas é mais arrastada e debilitante. Por se parecerem muito, isso preocupa, pois os profissionais da saúde podem confundir as duas. Acredito que ela irá entrar por terra e pelo Nordeste, independentemente da Copa, mas só no verão”, afirma o infectologista Jessé Reis Alves, responsável pelo Check-up do Viajante do Fleury Medicina e Saúde. “Temos de ficar atentos a essa nova doença, mas o risco de ela chegar ao Brasil ainda é muito baixo”, afirma Esper Kallás.
Portos e aeroportos
Prevendo a circulação de micro-organismos durante a Copa, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou nota na qual “reafirma que as Coordenações de Portos e Aeroportos nos estados estão atentas e capacitadas para qualquer determinação de controle”. A agência também informa que os planos de contingência estão prontos para ser acionados para qualquer evento de saúde pública, e que todos os desembarques internacionais durante o evento serão acompanhados pelo órgão.
Dicas básicas
Para evitar problemas em geral, Jessé Alves dá algumas dicas, como ficar atento ao local onde comer, usar repelente e estar com a carteirinha de vacinação atualizada. “Além disso, como o período é propício para contrair gripe e resfriado, é importante lavar as mãos com mais frequência.”
Kallás concorda: “Há uma série de recomendações, mas as principais são: esteja com as vacinas em dia, faça um check-up antes da viagem e tome cuidado em regiões onde ainda ocorrem casos de malária e febre amarela, por exemplo”.
Gripe na terra do tango
A gerente financeira aposentada, Nair Silva de Andrade, 63 anos, lembra-se bem de uma viagem a Buenos Aires, Argentina, em abril de 2009. O ponto alto seria um show de tango no dia de seu aniversário. Mas a cidade passava por uma epidemia de gripe suína (H1N1) e Nair não escapou do vírus. Alternou passeios pela cidade com visitas a pronto-socorro e farmácia e, como não melhorava, antecipou sua volta ao Brasil.
“Fui a uma pneumologista em São Paulo e só melhorei mesmo dois meses depois. As únicas coisas que trouxe de minha viagem foram uma terrível gripe suína e um inalador argentino”, conta ela rindo. Só no ano seguinte conseguiu assistir ao show de tango.
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