O Bairro da Paz, em Salvador-BA, está entre os locais com maior prevalência (65%) de Toxocara canis descrita no Brasil, aponta o artigo "Prevalência e fatores de risco da infecção humana por Toxocara canis em Salvador, Estado da Bahia". O trabalho foi produzido por diversos pesquisadores e tem a coordenação da Dra. Neuza Maria Alcantara-Neves, professora da Universidade Federal da Bahia e especialista em Parasitologia.
As doenças causadas por esse tipo de helminto são conhecidas como larva migrans visceral e larva migrans ocular, "zoonoses parasitárias negligenciadas, causadas por ingestão de ovos de Toxocara canis e, menos frequentemente, de Toxocara cati, parasitos de cães e gatos, respectivamente", aponta a pesquisa. A infecção é causada pela ingestão de ovos que contém larvas que migram pelos tecidos, podendo atingir órgãos como fígado, pulmões, olhos e cérebro.
Os principais fatores contribuintes para o aumento na prevalência da infecção no ser humano são maus hábitos de higiene, como a manipulação de alimentos com as mãos sujas, após contato com animal parasitado ou solo infectado, além do contato íntimo com animais infectados, já que os ovos de Toxocara canis e T. cati são encontrados nos pêlos dos animais, explicam os dados da pesquisa.
Nos seres humanos, uma das formas de doença mais diagnosticada é a larva migrans ocular. Os principais sintomas da larva migrans visceral são febre, manifestações pulmonares (que se confundem com asma) e meningoencefalite, uma inflamação que envolve cérebro e meninges.
Nos animais, a infecção é predominantemente intestinal, sendo fatal em um cão jovem cuja carga parasitária é alta. O tratamento para o animal é a vermifugação, que deve ser feita duas vezes por ano. Dra. Neuza explica que a pessoa infectada deve usar anti-helmíntico com efeito sistêmico, como albendazol e ivermectina.
O estudo ainda aponta que a prevalência de infecção por Toxocara canis é mais alta em países tropicais e em desenvolvimento. Dra. Neuza explica que isso se dá porque as populações dos países de clima tropical têm menor desenvolvimento sócio-econômico, o que favorece a maior frequência de cães e gatos de rua, assim como de donos que não vermifugam seus animais. Explica-se, desta forma, o alto índice no Bairro da Paz, em Salvador-BA: "O contato com cães (64,4%) e gatos (35,1%) nos indivíduos do Bairro da Paz foi mais frequente do que nos moradores de outros bairros de Salvador (35,6% e 18,7%) para cão e gato, respectivamente", evidencia a pesquisa.
Em palestra ministrada na Sessão Científica, realizada na Fiocruz Bahia, a Dra. Neuza expôs os principais aspectos desse tipo de infecção. A partir de dados obtidos no estudo, ela mostrou que alguns meios de controle da zoonose são necessários, como o oferecimento de serviços veterinários públicos, combate à propagação da população canina e felina de rua, além do diagnóstico e tratamento dos casos em animais de estimação e em seres humanos.
Publicado em: 01/06/2011
Fonte: Ascom Fiocruz Bahia
0 comentários:
Postar um comentário
Seu comentário é importante!